Francisco Buenavista García, presidente da Federação de Municipios e Provincias da Extremadura fala-nos de localcir

“…Acredito que o LOCALCIR marcará um antes e um depois em aspectos como a cultura da reciclagem, a reutilização e a reparação. Isto é, os valores dla circularidade.”

Francisco Buenavista García nasceu em Hornachos (Badajoz) em Janeiro de 1981. É licenciado em História e Humanidades pela Universidade da Extremadura. Em 2006 iniciou a sua carreira profissional como Professor do Ensino Secundário, sendo funcionario de carreira com destino definitivo no IES Los Moriscos da sua cidade, Hornachos, centro de ensino do qual é atualmente Diretor.

Desde 2007 é Presidente da Câmara de Hornachos e membro do Conselho Diretor da Associação de Municípios Tierra de Barros-Río Matachel. Entre 2011 e 2015 presidiu o Grupo de Ação Local FEDESIBA (Federação para o Desenvolvimento da Serra Grande e Tierra de Barros), é também Presidente da Comissão para as Garantias da Autonomia Local e Vice-Presidente do Conselho de Política Local da Extremadura.

Desde 2015 Francisco Buenavista é presidente da Federação de Municípios e Províncias da Extremadura (FEMPEX). Na última Assembleia Geral da Federação realizada em 2019, foi reeleito por unanimidade como Presidente para o período 2019-2023.

Francisco Buenavista García, Presidente de FEMPEX

Atualmente é representante da Federação no Conselho Escolar da Extremadura, no Conselho Social, no Conselho Diretivo da Universidade da Extremadura e no Conselho de Administração do GESPESA, entre outros.

Nesta circunstância, concordou em ser entrevistado como Presidente da FEMPEX. Esta importante entidade é um dos dezasseis parceiros do projecto transfronteiriço LOCALCIR, uma proposta europeia que se desenvolve no âmbito do programa Interreg V-A Espanha-Portugal, POCTEP (2014-2020) co-financiado pelos fundos FEDER e por cada um dos participantes entidades.

LOCALCIR é um projeto europeu transfronteiriço que promove a economia verde e a economia circular no espaço Euroace, trabalhando com empresários e empreendedores na inovação e reconversão de modelos de negócio enquadrados nestes princípios.

Neste contexto, estão a seleccionar e a trabalhar com várias empresas de diversos sectores da Extremadura e de Portugal (Alentejo e Zona Centro) que tenham interesse em participar no projecto.

1-O que pode levar a organizações como a FEMPEX no espaço Euroace a participar em LOCALCIR? … no vosso caso, o que os motivou?

O mundo está a mudar radicalmente e temos que fazer um esforço para nos adaptar a esta nova realidade. É o caso, por exemplo, de tudo relacionado ao combate às mudanças climáticas ou ao compromisso com um modelo de desenvolvimento mais sustentável. A União Europeia, através do pacto verde europeu exige que aos estados, administrações e empresas que adotem como suas essas abordagens e as incorporem em seus sistemas de gestão. É isso que a LOCALCIR pretende, de forma prática. Para nós, representantes da administração local é fundamental para acompanhar o tecido empresarial, situado nas nossas localidades, a ser incentivado a realizar essas ações. Isso nos impulsa, entre outros motivos, a participar ativamente nesta iniciativa.

Este projeto tem uma série de ingredientes que o tornam especialmente singular. Por um lado, é eminentemente prático. Tem como foco trabalhar com empresas, no âmbito económico da nossa sociedade. Isso torna-o diferente, pois é mais comum trabalhar-mos com questões de gestão social, cultural, ambiental ou política, só para citar alguns exemplos. No entanto, este projeto tem como principais beneficiários as empresas, a área económica, e por isso representa um desafio muito interessante para a FEMPEX. Mas, por outro lado, é um projeto bastante inovador, que visa proporcionar às empresas oportunidades que vão além da busca por produtividade económica. Este projeto promove ações que melhoram a circularidade das empresas. Para cada uma das empresas beneficiárias selecionadas, será realizada uma análise detalhada das suas capacidades e potencial para implementar processos de economia circular na sua produção. Para fazer isto, vvai-se investigar quem são os seus concorrentes, como é o seu processo de produção, qual é seu modelo de negócios, uma análise do ciclo de vida de seus produtos, etc. Só isto, já serve para dar conta da qualidade do estudo que será feito de cada empresa e, portanto, da grande oportunidade que representa para elas.

Feito isto, será proposto a cada empresa um plano de trabalho, um Itinerário Verde para a implantação da economia verde e circular. Tudo isto é gratuito para as empresas.

O projeto visa fornecer ferramentas às empresas para enfrentar a revolução verde que está por vir. E as administrações locais são colaboradores necessários para que essas ajudas cheguem de forma eficaz a todo o território.

2-Do seu ponto de vista, quais serão os impedimentos ou dificuldades que LOCALCIR poderá sentir face à implementação de modelos de negócio onde primam os conceitos de economia verde e circular?

O momento atual é de particular dificuldade para todos e principalmente para as empresas e para a economia global. Pode-se dizer que boa parte das empresas agora se preocupa mais com sua sobrevivência e / ou sua situação econômica acima de tudo.

Esta situação atual gera muita incerteza sobre o momento exato em que as restrições devidas ao COVID começam a ser eliminadas sem que haja um retrocesso. E até que haja um período de tempo mais ou menos longo sem voltar na normalização de nossas vidas, é compreensível que as empresas não tenham interesse em fazer investimentos e pensar no longo prazo. Acho que esse é o maior desafio que enfrentamos.

Em todo caso, há empresas que são menos afetadas pela crise da saúde, ou pelo menos em menor grau. E também é verdade que o esforço que o projeto LOCALCIR exige das empresas não é excessivo. Basicamente, precisamos que nos seja disponibilizado dados suficientes para as conhecêr e fazer uma proposta de trabalho futuro. Por este motivo, entendemos que o compromisso da LOCALCIR é viável na sua concretização, e se ao longo do ano a situação económica melhorar, com certeza o projeto se reforçaria e os objetivos alcançados seriam mais substanciais.

3-Em que medida espera que LOCALCIR tenha impacto no tecido produtivo e industrial da região da EUROACE?

Por um lado, o projeto vai gerar, e já criou, uma metodologia para o desenvolvimento de Itinerários Verdes nas empresas. Este material e, este procedimento já foi criado e estimamos que seja um bem tangível do projeto, que sobreviverá ao próprio projeto. Para além disso está o trabalho específico com cada uma das 225 empresas que o projeto globalmente tem como objetivo.

No caso da FEMPEX, haverá um mínimo de 8 empresas para as quais faremos uma análise e posterior proposta de trabalho, acompanhamento e posteriores tutorias. É difícil estimar quantas das empresas com as quais trabalhamos vão incorporar de forma efetiva e verdadeiramente as propostas produtivas da economia verde e circular que lhes vamos enviar. O que tenho certeza é que cada um deles incorporará ao seu trabalho quotidiano algum processo de implantação de uma economia verde e circular … e isso é fundamental, porque a meu ver nos permitirá avançar na sociedade rumo a essa conquista coletiva de gerar uma cultura, um conhecimento dos valores da economia verde e circular, e que os conceitos de reciclar, reutilizar, reparar estejam muito presentes nas empresas objeto do estudo LOCALCIR.

4-A crise internacional da saúde afetou grande parte da indústria regional, nacional e internacional. Até que ponto você espera que LOCALCIR possa ter sido afetado por estas condicionantes?

Como já indiquei anteriormente, este é o nosso “cavalo-de-batalha”, mas entendemos que à medida que este ano vá passando e esta situação começe a melhorar, possamos ter mais estabilidade, para podermos nos concentrar especificamente nas ações técnicas do projeto. Ou seja, dar às empresas ferramentas para que possam ser muito mais sustentáveis ​​e possam entrar em circuitos de circularidade entre elas, visto que este é um dos objetivos finais do projeto, a criação de circuitos fechados entre diferentes empresas, de forma que os produtos residuais de algumas possam ser usados ​​por outras e, assim, gerar circularidade entre organizações participantes.

5-Bill Gates, em entrevista recente à rede RTP, fala que é absolutamente urgente inovar no domínio da luta contra as alterações climáticas. Até que ponto LOCALCIR pode ser replicado para outras regiões fora da região #EUROACE, para ajudar na luta contra as mudanças climáticas?

A fórmula de trabalho LOCALCIR é relativamente simples e as ferramentas que criou, como já disse antes, são um valor efetivo do projeto e, portanto, diretamente exportáveis. A metodologia criada especificamente pelos parceiros LOCALCIR pode e deve ser utilizada em outras áreas de Espanha e da Europa. Todas as fichas de recolha de informações que o projeto contempla, por exemplo, têm um valor específico e podem ser utilizadas e re-utilizadas continuamente. Da mesma forma, pode ser feito com a recolha de boas práticas realizadas e com exemplos reais de trabalhos coordenados entre empresas que saiam do projeto assim que este estiver concluído.

6.- Em que medida pode contribuir a vossa organização para o projeto e seus propósitos?

O nosso papel deve ir além do que está previsto no projeto, pois a FEMPEX transferirá os resultados do projeto às entidades locais e estabelecerá um “feedback” entre as empresas e os entes públicos (corporações locais). É muito importante que todo o conhecimento que o projeto acumula, e todas as oportunidades que surgem nas empresas, sejam de alguma forma conhecimentos que os municípios possam aproveitar. A possibilidade de estabelecimento de sinergias, relações de colaboração ou contratação direta de serviços deve ocorrer entre entidades públicas e privadas.

Nesta linha poderia ser dado um exemplo. A empresa “Integreellence”, que criou um contentor inteligente para compostagem, é uma das beneficiárias do projeto. Esta empresa tem como objetivo a prestação de serviço de contentores de compostagem a entidades locais. Mas alem disso este contentor, sendo inteligente, gera uma série de dados sobre a composição, quantidades por habitante do composto criado, etc., que vão além da mera criação de contentores, mas acabam por criar uma escola sobre a importância da reciclagem, bem como possibilidade de realizar estudos sobre os hábitos de reciclagem das populações onde este trabalho é realizado. Esta atividade gera uma importante fonte de informação para os municípios e com o projeto pretendemos promover atividades como esta, para além de as divulgar junto de todas as entidades locais da Extremadura.

7-Que benefícios acredita que este projeto trará para a zona da EUROACE?

Na minha opinião, acredito que LOCALCIR marcará um antes e um depois em aspectos como a cultura de reciclar, reutilizar e reparar. Ou seja, os valores da circularidade. Vai-nos fazer ver que a sustentabilidade depende das decisões que tomamos no dia a dia, mas sobretudo que todos temos um papel decisivo na conservação do nosso planeta.

A economia de energia, e de todo tipo, que uma empresa pode gerar introduzindo critérios de circularidade na produção é enorme e isso é algo que em muitos casos é mais fácil de alcançar do que parece, resta planear o objetivo que se deseja alcançar.

Por outro lado, as empresas objeto de estudo poderão contar com ferramentas específicas, com dados e relatórios, que lhes permitirão orientar as suas decisões de produção com muito mais informações disponíveis.

Com tudo isto, melhoraremos de forma geral a cultura da circularidade, e geramos consciência coletiva sobre a sustentabilidade do nosso planeta e, por outro lado, seremos os guias de pelo menos 225 empresas para as quais vai ser criado um itinerário verde.