Entrevista a Rui Espada, Presidente do NERE, no âmbito do projeto LOCALCIR.

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Torna-se essencial, apoiar de forma sustentada as empresas na sua transição para a economia circular. Esse é o papel do NERE que, enquanto associação empresarial, assume como missão, no âmbito do projeto LOCALCIR.

O projeto transfronteiriço LOCALCIR, do programa Interreg V-A (POCTEP) Espanha-Portugal 2014-2020, é uma proposta apresentada por dezasseis entidades da região Euroace, doze das quais do CCAA da Extremadura espanhola e quatro de Portugal (Alentejo e Zona Central). Das entidades que participam na Localcir, a NERE é a entidade que representa o tecido empresarial da Região de Évora e Rui Espada é o presidente da entidade.

Rui Espada-Presidente NERE

Licenciado em Design, Rui tem formação no Programa Avançado de Gestão para Executivos da Universidade Católica de Lisboa. Foi designer de comunicação em Barcelona e coordenador gráfico em Lisboa. Atualmente assume o cargo de Presidente da Direção do NERE – Núcleo Empresarial da Região de Évora, de Vice-Presidente do Conselho Geral da CIP – Confederação Empresarial de Portugal e de Vice-Presidente da AIP – Associação Industrial Portuguesa. É um empreendedor que tem desenvolvido diferentes projetos na Região em áreas diversificadas como a eletricidade, imobiliária e setor agrícola.

Convidado para esta entrevista, Rui, deixa-nos os motivos que levaram o NERE a particpar na proposta e, explica o que espera deste projeto e o que este projeto pode esperar desta organização enquanto sócia do LOCALCIR.

1-O que pode levar as organizações empresariais da região Euroace a participar em Localcir?… No vosso caso o que os motivou?

O NERE – Núcleo Empresarial da Região de Évora é uma associação empresarial com intervenção no Alentejo Central. Constitui-se como sua missão a promoção do desenvolvimento económico do Alentejo Central através do apoio e defesa dos interesses dos seus associados e da dinamização de projetos de melhoria do contexto e da envolvente empresarial.

No âmbito das suas atribuições, o NERE é a entidade gestora da incubadora e aceleradora de empresas FIND-e – Fábrica de Inovação e Novos Desafios para Empresas e Empreendedores, que agrega atualmente cerca de 50 empresas e mais de 120 colaboradores instalados.

O NERE tem vindo a apostar, desde 2017, na definição de uma estratégia de transição para a economia circular. Esta estratégia teve início com a aprovação do projeto Eco.nomia Alentejo Central, cofinanciado pelo Fundo Ambiental, no âmbito do qual foi preparado um Plano de Implementação de iniciativas ligadas à promoção da transição para a economia circular junto das empresas do Alentejo Central.

A nossa estratégia de transição para a economia circular engloba a implementação de ações no edifício do NERE, que passam pelo incentivo à separação de resíduos e reciclagem por parte das empresas instaladas na incubadora, a colocação de painéis solares para produção energética para o edifício, a colocação de pontos de distribuição de água filtrada, de modo a incentivar a utilização de garrafas reutilizáveis e a introdução de medidas de incentivo conducentes à poupança energética por parte das empresas instaladas.

Por outro lado, o NERE tem vindo a implementar ações consideradas estratégicas para promover a economia circular no tecido empresarial do Alentejo Central, nomeadamente:

– Criação de um Portal de Economia Circular para o Alentejo Central (https://www.ecoalentejocentral.pt/);

– Elaboração de um livro de receitas, com medidas concretas a aplicar pelas empresas;

– Implementação de sessões de matching para que as empresas iniciem processos de colaboração na área dos subprodutos;

– Recolha de Boas Práticas empresariais e institucionais na área da economia circular;

– Criação de um simulador de pegada ecológica para empresas, com recomendações a implementar em função dos resultados obtidos;

– Organização de um Concurso de Economia Circular para empresas e empreendedores.

Ainda nesta área da economia circular e da sustentabilidade, o NERE desenvolveu o projeto Alentejo Green Business Innovation, financiado pelo Alentejo 2020 e pelo FEDER, no âmbito do qual foram reforçados estes instrumentos de apoio às empresas na área da economia circular.

Atualmente, o NERE é parceiro do projeto LOCALCIR, no âmbito qual se encontra a selecionar 20 empresas para aplicação de itinerários verdes, apoiando-as no percurso de transição para a economia circular, incentivando ainda à criação de circuitos fechados, promovendo a colaboração entre empresas de ambos os lados da fronteira.

Deste modo, a motivação do NERE para participar neste tipo de iniciativas resulta da estratégia definida para apoiar as empresas na transição para a circularidade, contando para o efeito com o apoio de projetos comunitários, como é o caso do LOCALCIR.

2-Desde o seu ponto de vista, quais serão as barreiras ou dificuldades que LOCALCIR pode sentir face à implantação de modelos de negócio onde primam os conceitos de economia verde e circular.

Um dos principais constrangimentos que se coloca ao tecido empresarial do Alentejo Central consiste na sua reduzida dimensão em termos de número de trabalhadores. Mais de 90% das empresas presentes no nosso território têm menos de 10 trabalhadores, o que tem uma grande influência na sua competitividade e capacidade de crescimento no mercado.

A sua reduzida dimensão traduz ainda uma necessidade mais evidente destas empresas em matérias relacionadas com a economia verde e circular. Por essa razão, torna-se essencial, apoiar de forma sustentada as empresas na sua transição para a economia circular. Esse é o papel do NERE que, enquanto associação empresarial, assume como missão, no âmbito do projeto LOCALCIR, o apoio às empresas no desenho e implementação dos seus itinerários verdes e circulares.

Por outro lado, e embora já tenha sido percorrido um longo caminho na região a nível da sensibilização do tecido empresarial para a economia circular, continua a verificar-se a necessidade de promover ações conducentes a promover o apoio às empresas na implementação de medidas e práticas verdes e circulares. Esse é o trabalho que o NERE tem vindo a desenvolver no âmbito da sua missão e irá continuar a implementar no futuro, com o objetivo de contribuir para um tecido empresarial mais verde e sustentável.

3-Como espera que LOCALCIR possa ter impacto no tecido produtivo e industrial da região EUROACE?

Como é sabido, a economia circular não tem apenas impacto ambiental, ao contribuir para a diminuição do recurso às matérias-primas. A economia circular também gera impacto social, uma vez que permite melhorar e prolongar as relações com diferentes parceiros, e impacto económico, ao promover a redução de custos, o crescimento empresarial, a inovação e a criação de emprego. Deste modo, o impacto da implementação de medidas de economia circular junto das empresas revela-se bastante abrangente, permitindo às empresas crescer no mercado e poupar nos custos diários, ao mesmo tempo que reduz o desperdício e os resíduos.

Por essa razão, para o NERE é fundamental a aquisição de conhecimentos e ferramentas, nomeadamente através dos projetos cofinanciados em que participa, de que é exemplo o LOCALCIR, que lhe permitem dar informação e apoiar, particularmente ao nível da consultoria, as empresas na sua transição para a economia circular e na implementação de estratégias que fomentem a passagem da economia linear para a circular.

Através das atividades previstas no âmbito do projeto LOCALCIR, particularmente as que se relacionam com a realização de sessões de sensibilização, a organização de ações de formação nesta área, bem como o apoio à implementação de itinerários verdes e circulares, o NERE e a parceria do projeto, estão a contribuir claramente para o reforço da competitividade do tecido produtivo da Região EUROACE, ao mesmo tempo que contribuem para a redução da pegada ecológica das empresas e do próprio território.

Por fim, e uma vez que o projeto LOCALCIR tem por objetivo a criação de um serviço de apoio permanente ao desenho de itinerários verdes empresariais, promovido por parte dos parceiros, conclui-se que terá um papel muito importante, ao nível da Região EUROACE, na transição das empresas para uma economia circular.

4-A crise sanitária internacional afetou muito a indústria regionlal, nacional e internacional. Em que medida espera que LOCALCIR se possa ver afectado por estas condicionantes?

O projeto LOCALCIR está a decorrer num contexto global muito conturbado, motivado pela pandemia COVID-19, o que tem vindo a dificultar o desenvolvimento das atividades previstas, particularmente as que se relacionam com as visitas presenciais às empresas, que durante um período muito longo de tempo não foi possível realizar em Portugal.

Por outro lado, e para além dos constrangimentos que a crise sanitária colocou à parceria na implementação do projeto, também nesta fase se torna mais difícil envolver as empresas em atividades que não são estritamente necessárias à sua sobrevivência, uma vez que a pandemia afetou a sua atividade central. Assim sendo, um dos principais desafios que se colocam à parceria consiste no envolvimento das empresas e na sua disponibilidade de tempo para a implementação de itinerários verdes em tempos difíceis para a sua sobrevivência.

No entanto, é de referir o papel relevante que o projeto poderá ter no crescimento e desenvolvimento das empresas do Alentejo Central, ao permitir a implementação de um caminho verde e sustentável por parte do tecido produtivo que, através da introdução de medidas de transição para a economia circular, contribui para a redução dos custos inerentes à sua atividade e para o aumento da visibilidade regional e nacional da empresa, conseguindo atingir um público-alvo mais abrangente.

5-Bill Gates, numa entrevista muito recente à televisão portuguesa RTP, fala de que é absolutamente urgente inovar no âmbito da luta contra as alterações climáticas. Em que medida LOCALCIR poderá ser replicado noutras regiões fora da região EUROACE, para ajudar na luta contra as alterações climáticas?

O projeto LOCALCIR tem por objetivo a capacitação dos parceiros para o apoio permanente às empresas na transição para a circularidade, com recurso a uma metodologia de itinerários verdes circulares. Através desta metodologia, cada parceiro, no seu território de intervenção, adquire um conjunto de ferramentas de apoio às empresas neste caminho conducente à circularidade e à sustentabilidade.

Em minha opinião, o maior contributo que o projeto LOCALCIR traz à luta contra as alterações climáticas é efetivamente a metodologia própria construída para dar apoio à implementação de itinerários verdes por parte das empresas.

A metodologia proposta pelo projeto LOCALCIR poderá ser facilmente transferível para outras regiões e outros territórios, contribuindo para o alargamento do combate à emissão de gases com efeito de estufa e na redução da extração de matérias-primas, com recurso à implementação, por parte das empresas, de itinerários verdes. Outras organizações similares aos parceiros do projeto, noutros locais do mundo, podem facilmente apropriar-se da metodologia LOCALCIR de itinerários verdes e, deste modo, contribuir, através da economia circular, para a redução dos fatores que causam alterações climáticas.

6-Que pode ofrecer de positivo a vossa organização ao projeto e aos seus propósitos?

Conforme referido anteriormente, o NERE é uma associação empresarial que conta com 30 anos de implementação no território. A sua experiência no apoio às empresas assume diferentes domínios, entre os quais, a inovação, a competitividade, o empreendedorismo, a formação e, mais recentemente, a sustentabilidade e a economia circular.

Tendo em conta a vasta experiência que o NERE detém no apoio ao tecido empresarial, o seu papel neste projeto pode ser preponderante, nomeadamente, através do envolvimento e da sensibilização de um elevado número de empresas para a participação no projeto LOCALCIR. Por outro lado, a nossa aposta forte na sustentabilidade, particularmente no que respeita à redução da pegada ecológica da incubadora e das empresas nela instaladas, tem permitido ao NERE adquirir competências na área da economia circular, que lhe permitem contribuir de forma clara para as atividades do projeto, nomeadamente a implementação de itinerários verdes, a realização de ações de sensibilização e de formação e informação para as empresas e, por fim, a criação de circuitos fechados de circularidade entre empresas de ambos os lados da fronteira.

7-Que beneficios acredita que possa trazer este projeto à zona EUROACE?

O projeto LOCALCIR integra uma parceria alargada de organizações que trabalham a área da economia circular e da sustentabilidade junto do tecido empresarial. Com a implementação das atividades previstas, o projeto trará inúmeros benefícios à Região EUROACE e, particularmente, às suas empresas. Entre esses benefícios, destacam-se os seguintes:

  • Criação e disponibilização de uma metodologia LOCALCIR de desenho e implementação de itinerários verdes nas empresas presentes em qualquer parte da Região EUROACE;
  • Reforço da capacidade dos parceiros do projeto através da criação de um serviço de apoio permanente ao desenho de itinerários verdes empresariais;
  • Apoio ao desenvolvimento de ações de sensibilização e de formação na área da economia circular, com o objetivo de incrementar o empreendedorismo e o surgimento de novas ideias empresariais na área da economia verde e circular;
  • Através do desenvolvimento do projeto e do aumento da circularidade nas empresas, contribuir, a médio prazo, para a proteção do meio ambiente e para a redução de emissão de gases com efeito de estufa.

Em suma, o projeto LOCALCIR é, em minha opinião, pela abrangência das suas atividades e objetivos a atingir, uma iniciativa que irá contribuir, de forma inequívoca, para a melhoria da competitividade das empresas, para a redução de custos, para a sua sustentabilidade e, simultaneamente, para a redução das ações conducentes às alterações climáticas.